A saga lusitana de se lançar em busca de novos mundos transformou-se no século 21 na aventura de captar novos negócios, pelo menos para Bartolomeu da Costa Cabral, proprietário da GMV. Innovative.Consulting.
Com vários investimentos no Brasil, Bartolomeu está constantemente em contato com empreendedores e consultores brasileiros para fazer com que brasileiros e suas empresas cruzem o Atlântico e se estabeleçam em Portugal.
Costa Cabral esteve no Brasil para participar de evento no ABC |
A mais recente investida de Costa Cabral aconteceu na primeira edição do Startup Award Brasil – um evento organizado pelo ITESCS – Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul – e a Atlantic Hub, empresa de investimentos com capital brasileiro e lusitano. O evento ocorrido nas dependências do Instituto Mauá de Tecnologia e no qual foi escolhida uma startup curitibana que será alavancada por capital lusitano.
Na ocasião, Costa Cabral concedeu entrevista exclusiva ao caderno Negócios em Movimento.
Negócios em Movimento (NM): O que é exatamente a sua empresa?
Costa Cabral (CC): Eu sou o único sócio da empresa e tenho feito alguns investimentos, comprado outras empresas e tenho tentado criar um portfólio de empresas que tenham sinergia, que tenham alguma coisa a ver, cada uma delas tenham alguma coisa a ganhar com a outra entrar dentro dessa estrutura.
NM: Todas as empresas têm uma sinergia entre si?
CC: Exatamente. Não sou investidor para entrar e sair, basicamente eu invisto para fazer crescer a empresa, também não digo que não posso haver uma venda de empresa, mas isso só acontece se, de fato, não houver interesse das outras empresas de manter-se dentro deste universo.
NM: A sua empresa fica sediada em Portugal?
CC: Sediada em Portugal, tem a sede em Cascais e depois tenho empresas em vários lugares do mundo, tenho empresas na China, México e Brasil.
NM: Ao todo, são quantas empresas?
CC: São cerca de 30 empresas.
NM:Todas elas atuam num único segmento?
CC: São vários segmentos. Talvez, os três segmentos que nós atuamos todas elas têm alguma coisa a ver, desenvolvimento de TI – Tecnologia da Informação, tem alguma parte disso; engenharia industrial, onde também estamos muito fortes, e a outra parte que nós trabalhamos sério é a de consultoria internacional de exportação.
NM: Qual a sua origem com empreendedor? Como você iniciou a sua atividade de empreendedor?
CC: Eu comecei a empreender em 2000, aliás, a data de fundação da GMV, que é a empresa holding em Portugal, é 1º de janeiro de 2000, e desde aí não parei de empreender. A primeira empresa que eu tive foi a GMV e nessa altura, não era uma holding, era uma empresa que fazia desenvolvimento de software, em 2000 ainda era muito importante fazer web page, fazer tudo que fosse relacionado à internet era um grande negócio.
NM: Qual a origem do capital de investimento?
CC: Esse dinheiro vem de outras empresas que eu tenho, algumas delas lá fora, são de engenharia. A empresa principal que é no fundo cash call, como que se diz, desses setores de negócios tem a ver com uma empresa que tem, neste momento, duas filiais uma em Madri, na Espanha, e outra na China, em Guangzhou, Cantão. Essas duas empresas fazem engenharia cênica, basicamente, tudo que se movimenta dentro dos teatros, dentro dos palcos, na parte de engenharia na parte mesmo de mecânica, essas empresas já existem desde 2009/2010, foi quando começou mais a expansão delas. Fazemos teatros no mundo todo, na Rússia, no México, nos Estados Unidos, no Brasil ainda não fizemos nenhum.
NM: E os seus negócios aqui no Brasil?
CC: Eu comecei a fazer negócio no Brasil em 2006/2007. Tive uma empresa de incorporação em Recife, com a qual fizemos um projeto grande do Minha Casa, Minha Vida, depois isso não continuou. Tinha um sócio brasileiro, que tinha 51% do negócio.
NM: Você continua buscando negócios aqui no Brasil?
CC: O que nós estamos fazendo são duas coisas: ver se existem empresas que ganham com a possibilidade de ir para o mercado europeu, não é só Portugal, e estamos vendo também a possibilidade de ir buscar um pouco da tecnologia que existe em Portugal, na parte de empreendedorismo e inovação que é muito forte.
NM: Em uma exposição sua soubemos que você está levando uma empresa, a Cbpack, fabricante de utensílios descartáveis a partir de farinha de mandioca.
CC: A Cbpak foi o primeiro negócio luso-brasileiro que fizemos. Basicamente, é uma fábrica que já existe com outros sócios no Rio de Janeiro. O pessoal que inventou o conceito, que é dono do know how, decidiu fazer uma nova fábrica não com os sócios do Brasil, mas com a GMV, em Portugal.
NM: Então, a fábrica ficará no Brasil e em Portugal?
CC: Exatamente. Terão duas fábricas. São totalmente compostáveis, ou seja, você tira aquilo da farinha de mandioca, que é como você sabe vegetal e no final é só colocar na terra, porque aquilo já é terra. Então, é compostável 100%. Não tem nenhum produto que afeta a natureza.
NM: Esse know how é totalmente brasileiro?
CC: Esse know how é totalmente brasileiro, mas houve uma grande incorporação de tecnologia das nossas empresas, porque nós estudamos o método de produção da fábrica e criamos uma linha de fabricação para diminuir o pessoal necessário, reduzir a mão de obra e para ter uma ideia nós reduzimos de 52 pessoas para 400 mil unidades, por mês, para 8 a 9 pessoas para 2 milhões de unidades.
NM: A matéria-prima sairá daqui do Brasil?
CC: Do Brasil, da África, Índia também, tem várias possibilidades.
Quanto você tem investido nessas 30 empresas? Você tem ideia do montante que você investiu?
O total de investimentos em startups, que nós estamos aqui falando, basicamente ronda entre 5 e 6 milhões de euros.
NM: Como a relação Brasil-Portugal poderia ser intensificada?
CC: Temos 30 mil startups, vamos dizer na designação que vocês têm aqui de startups, em comparação com 8 mil startups no Brasil, 30 mil para 10 milhões de habitantes, 8 mil para cerca de 220, 230 milhões.
NM: Como os portugueses veem o mercado brasileiro para essas startups e para os seus negócios?
CC: É uma oportunidade. Nós sentimos que se nós já temos os problemas resolvidos lá de inovação, já temos até os problemas resolvidos até de modelos de negócios, por que não pegar as empresas que estão com alguma dificuldade naquela concorrência toda que existe na Europa de inovação. Por que não pegar essas empresas e trazer para cá no mesmo ramo, falando entre dois produtores, o brasileiro e português, e tentar chegar num acordo para tentar ganhar o mercado mais rapidamente? Aí sim pode haver uma grande vantagem, porque não é fácil chegar ao mercado europeu por causa da concorrência da inovação.
NM: O que você tem procurado no Brasil especificamente?
CC: Eu tenho procurado três tipos de coisas: estou muito interessado em tudo que é produto, como o caso da Europapak (nome da Gbpack em Portugal) tudo que é produto ligado à ecologia, ligado às novas fontes de energias renováveis, tudo que é ligado ao ecossistema, a parte social também, porque isso não vence agora no Brasil, mas pode vencer imediatamente na Europa, portanto, essas são as empresas que eu acredito que aqui não vão crescer tão rápido, e na Europa sim, vão crescer muito rápido. Segundo tipo de empresas que eu estou à procura são empresas que nós já conhecemos lá algumas tecnologias, que estão muito desenvolvidas, existe aqui uma febre muito grande das fintechs. Em Portugal, não só, na Europa toda, as fintechs são uma coisa que tem evoluído com uma rapidez louca. E eu tenho várias empresas que tentar entrar com meu portfólio, que talvez já esteja num estágio mais evoluído dos projetos que eu tenho recebido aqui das fintechs, seja para pensar como fomos aqui. Outra parte, que eu acho que é uma grande vantagem, os nossos conhecimentos dentro do grupo da parte de indústria tentar encontrar produtos que, de fato, possam ser produzidos aqui no Brasil. O que falta no Brasil é produção, ‘reindustriar’, tentar industrializar todos os produtos e fazer a inovação acima de tudo para esses produtos, isto não está sendo feito, não há uma ajuda do Estado nisso, é muito difícil produzir.
NM: Quer dizer que o problema nosso de produção é o Estado?
CC: Eu não diria que é só o Estado, eu acho que o Estado não ajuda, mas não tem as condições para fazer a produção com nós temos na Europa, as infraestruturas do transporte não são fáceis, portanto, é muito difícil você saber onde você vai colocar a indústria, para depois ter o escoamento do produto, a parte toda também que tem a ver com o know how industrial de engenharia senti que existe um pessimismo que já vem de trás e não deixa entrar algumas tecnologias aqui dentro que seriam fundamentais para avançar na indústria.
NM: Acabamos sendo só exportadores de commodities.
CC: Exatamente, só de commodities. Depois vem tudo já transformado para cá.
NM: Por que fazer uma fábrica na Europa e só exportar matéria-prima? É mais fácil?
CC: É. A razão que nós fizemos a fábrica na Europa não foi só por causa disso, nós conseguimos foi um financiamento para a fábrica e optamos por fazer a fábrica para produzir os 2 milhões de unidades, ou seja, cinco vezes mais do que aqui, por um valor que eu diria dez vezes mais baixo do que com este investimento aqui, para fazer a mesma fábrica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário