Por Vitor Lima
No mercado, existem diversas opções de investimentos disponíveis. Há quem prefira destinar capital aos imóveis, ações na bolsa, títulos públicos, fundos de investimentos bancários.... Entretanto, uma nova modalidade tem angariado mais espaço no mercado brasileiro.
O investimento anjo – como é chamada a modalidade em que pessoas físicas aportam capital em empresas recém-criadas com alto potencial de crescimento (ou apenas em startups) –, ao contrário de outras categorias, fechou o ano de 2016 com saldo positivo.
Matsumoto, que já investiu em 17 startups, revela que os retornos do investimento anjo são grandes | Foto: Hugo Silva |
De acordo com dados divulgados no último dia 28 pela Anjos do Brasil – entidade sem fins lucrativos criada para fomentar este gênero e à inovação no País – houve crescimento de 9% no valor injetado na modalidade na comparação entre 2016 e 2015. No ano passado, a categoria movimentou R$ 851 milhões em investimentos, ante R$ 784 milhões de 2015. Contudo, o número de adeptos da modalidade caiu: em 2015, existiam 7.260 “anjos” no Brasil; em 2016, este número registrou queda de 3% e fechou o ano em 7.070.
Embora o termo tenha ganhado notoriedade nos últimos anos, ainda existe uma grande parcela do mercado que ainda não entendeu o conceito do investimento anjo. Nesta modalidade, o investidor tem mais responsabilidade na comparação com outras categorias como, por exemplo, o investimento na bolsa de valores.
Nas ações, o investidor simplesmente investe o dinheiro e torce para que a corporação cresça e lhe renda bons dividendos. No investimento anjo, não. Além do capital, o investidor terá que dispor de tempo e conhecimento para que todas suas funções sejam executadas. Ele terá que “vestir a camisa” da empresa caso queira obter lucros com a transação.
Muito mais que dinheiro
Para as startups, tão importante quanto o valor a receber, é o smart money do investidor. A expressão da língua inglesa significa “dinheiro inteligente”. Além do investimento, essas empresas, geralmente lideradas por jovens, buscam pessoas mais experientes, com trajetória mais sólida, para que indiquem caminhos melhores ou correções no projeto inicial do negócio.
O investidor anjo Thiago Matsumoto comenta: “O dinheiro no investimento anjo é um fator 50%. O resto é a parte do smart money, o conhecimento, os contatos do investidor. É por isso que chama anjo, porque ele ajuda mesmo. O conceito de anjo é ajudar a crescer não só na parte financeira”, afirma.
Exatamente por isso, que o ideal para as startups é possuir diversos investidores anjos: além de arrecadar mais dinheiro, a empresa terá mais “conselheiros”, em mais áreas e, assim, aumentar a chance de prosperar no mercado.
O investidor anjo atua como um “mentor”, classifica o presidente da Anjos do Brasil, Cassio Spina. “O empreendedor inteligente usa os conselhos e orientações do investidor de modo a maximizar o resultado da empresa”, conta.
Anjos ajudam startup andreense
Em 2013, surgiu em Santo André a startup Filho sem Fila. Criada com o objetivo de organizar a retirada dos alunos de escolas por meio de um aplicativo, a plataforma está presente em mais de 40 cidades brasileiras e atua em mais de 100 escolas.
Gmeiner idealizou o Filho Sem Fila | Foto: Arquivo |
Atualmente, a plataforma se prepara para chegar ao mercado americano. As etapas mais difíceis já foram superadas (nos Estados Unidos, já existe estrutura e equipe comercial para viabilizar a chegada da startup brasileira) e o lançamento do Filho sem Fila na terra do Mickey deve ocorrer nos próximos meses.
Mas, a internacionalização do negócio só foi possível com o auxílio dos anjos. Em junho de 2016, 15 investidores acreditaram no projeto e investiram R$ 220 mil para viabilizar o crescimento da ferramenta. “O investimento anjo não serve para pagar contas, não. O dinheiro do investimento é para crescer”, lembra Matsumoto.
Leo Gmeiner, idealizador do Filho sem Fila, ratifica a importância do aporte para o negócio: “Nos possibilitou experimentar modelos novos de prospecção de clientes, nos possibilitou chegar a contatos que a gente ainda não tinha e trouxe algumas ideias diferentes. Isso foi muito importante”.
Por que escolher este investimento?
Até agora, tratamos sobre os diversos benefícios da categoria para quem recebe o investimento. Mas, do ponto de vista do investidor, qual são os benefícios? Por que optar por essa modalidade e não seguir investimentos mais tradicionais – e talvez mais seguros?
Bom, em primeiro lugar é importante discorrer sobre o perfil dos investidores anjos. Geralmente, quem busca este modelo são pessoas já possuem um portfólio de investimentos diversificado. “Quando alguém investe em startup, normalmente, investe em outras coisas, em ações, em tesouro direto”, diz Matsumoto.
Já Spina, afirma que o “perfil típico” do investidor dessa categoria é de um empreendedor, que além de ter disponibilidade de tempo e de recursos financeiros, deseja “transferir experiência de vida”, para evitar que o novo negócio cometa erros que ele já cometeu no passado. “É claro que o investidor anjo também quer ganhar dinheiro, mas há uma busca pela satisfação de construir algo novo”, pondera.
Matsumoto, que durante a sua trajetória já investiu 17 startups também cita a proximidade com a empresa e o fato de se sentir parte dela como algo positivo, mas lembra que aproximadamente 80% das startups quebram.
“O risco é maior do que investir na bolsa, do que investir em ações. Mas a gente investe em startup porque quanto maior o risco, maior são os ganhos”, esclarece, ao lembrar que, em média, o retorno no investimento ocorre em torno de quatro ou cinco anos.
Legislação sobre o assunto
No ano passado, foi sancionada a Lei Complementar 155/2016, que regulamenta o investimento anjo. Batizada de “Crescer sem medo”, a matéria garante que o investidor desta modalidade não pode ser responsabilizado por possíveis processos trabalhistas, fiscais, ou de qualquer outra área, que a startup possa ter. “Hoje nós estamos protegidos por lei”, comemora Matsumoto.
Spina é o presidente da Anjos do Brasil | Foto: Divulgação |
Porém, o presidente da Anjos do Brasil ainda não está satisfeito. Spina, apega-se à exemplos estrangeiros e afirma que é importante que existam políticas públicas para alavancar o modelo no Brasil.
“Faz-se necessário que se promovam políticas de estímulo para os investidores, como já praticadas nos Estados Unidos e em vários países europeus, pois as startups dependem não só de capital financeiro, mas também do intelectual que os investidores anjo aportam, acelerando seu crescimento e aumentando suas chances de sucesso”, defende.
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