Por Vitor Lima
As perspectivas para a economia brasileira parecem apontar, enfim, para uma melhora. Pelo menos é essa a expectativa do mercado para o ano que se inicia, após um triênio trágico, em que a palavra “crise” esteve muito disputada para ser usada ao lado de “política” ou “econômica”. A “crise política” tornava a “crise econômica” maior e vice-versa. Este cenário nebuloso que foi a grande pauta, desde as últimas eleições presidenciais, em 2014, levou o País a uma forte recessão, que elevou os índices de desemprego e põe em risco os ganhos sociais adquiridos nos quatro mandatos petistas à frente do governo federal.
Skaf aposta no início da recuperação econômica | Foto: Ayrton Vignola |
Em 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial do País, fechou o ano abaixo do teto estabelecido (6,5%) pelo Banco Central, em 6,41%. Porém, em 2015, no auge da recessão, o índice terminou o ano acima dos dois
dígitos, em 10,67%, cerca de quatro pontos acima do teto. No ano passado, a inflação continuou a assustar os brasileiros, mas fechou o período abaixo do teto, em 6,29%.
Contudo, o que mais assusta os brasileiros é, sem dúvidas, o desemprego. A taxa de desempregados segue crescendo e fechou 2016 em 11,2%, o que representa quase 12 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – em 2014 a taxa ficou em 6,8%, em 2015 em 8,5%.
Mas, após a mudança do ano, a constatação do mercado é a recessão perdeu força e, em 2017, deverá ocorrer o início da recuperação econômica do País. O último relatório do Banco Central que mede a expectativa do mercado semanalmente, conhecido como boletim Focus, divulgado no último dia 23, aponta que o IPCA 2017 deve fechar o ano em 4,71%, abaixo do teto e quase ao centro da meta (4,5%).
Atento aos movimentos do mercado, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa), Everson Robles Dotto, revela boa expectativa para o ano. “Estou otimista. Já percebo que o telefone está tocando um pouco mais e conversei com outras pessoas que falaram a mesma coisa”, conta.
Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, crê numa recuperação, mesmo que seja tímida | Foto: Divulgação |
O assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze, está do lado daqueles que creem em uma melhora, mas pondera que ela será tímida. “A gente prevê um 2017 melhor que 2016, mas sem grandes expectativas. Não é uma recuperação que virá de um dia para o outro, é uma coisa muito gradual”, justifica.
Presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf segue a mesma linha de Dietze: “A recuperação da atividade econômica do Brasil será bastante lenta. Apesar dos indicadores estarem muito aquém do que gostaríamos, alguns sinais são positivos, especialmente a redução da inflação e o início da queda dos juros”.
Taxa de juros
A taxa de juros, destacada por Skaf, é tida como elemento fundamental para a melhora econômica do País. Na visão de Dietze os juros ainda estão elevados, “o que complica a seletividade do crédito e o comprometimento da renda”. Atualmente, a taxa está em 13% ao ano e a expectativa do mercado registrada no último boletim Focus é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (grupo que define o valor dela) reduza a taxa para 9,50% até o fim de 2017.
Para contextualizar a importância do índice no cotidiano das pessoas, Dotto exemplifica: “A taxa de juros caindo, o que acontece: se você paga no cartão de crédito R$ 100, por exemplo, você vai passar a pagar R$ 90. Esses R$ 10 você vai gastar”, projeta. A avaliação é de que, com esse movimento, milhões de reais seriam injetados na economia e, assim, o tripé econômico consumo-produção-emprego voltaria, aos poucos, a se normalizar.
Indústria
O setor industrial, um dos primeiros a sentir os impactos da crise, é um dos que mais demitiram. Na soma de 2014, 2015 e 2016, somente no estado de São Paulo o setor fechou 518 mil postos de emprego. “Um desastre”, na avaliação do presidente da Federação das Indústrias.
Medo do desemprego é empecilho, afirma Dotto | Foto: Divulgação |
“Depois de três anos muito ruins, temos tudo para um início da recuperação da economia em 2017. Para isso é necessário reduzir significativamente os juros e estimular a volta do crédito. Essa combinação permitirá o aumento do consumo e dos investimentos, e, o principal, a retomada da geração de emprego”, defende Skaf.
Medo do desemprego
Na opinião de Everson Dotto, o medo que o brasileiro sente de perder o emprego é um dos fatores que devem ser superados para superar a recessão econômica. Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no último dia 6 apontam que o Índice de Medo do Desemprego voltou a subir e alcançou 64,8 pontos em dezembro, valor muito acima da média histórica de 48,4 pontos – o indicador varia de zero a cem pontos e, quanto mais alto, maior é o medo do desemprego.
Para Dotto, no momento em que as pessoas que estão trabalhando “perceberem que o fantasma do desemprego passou”, o consumo será retomado. “O aumento da produção vai gerar o aumento da contratação. São etapas”, explica.
Varejo
Na comparação com 2016, os índices de vendas devem registrar crescimento. Mas isso não significará, necessariamente, um bom volume de vendas. “Você tende a ter uma ligeira melhora, mas a gente está falando de um patamar muito baixo”, explica Dietze. Assim, a tendência é de que o setor permaneça estável em 2017, pois os cortes que deveriam ser feitos no setor já foram executados.
“A gente acredita que para o segundo semestre a gente tenha o início de uma retomada de crescimento e para o próximo ano ficar uma coisa mais sólida”, conclui o assessor econômico.
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