Por Marcelo Lombardo, CEO da Omiexperience.
A tecnologia muda o papel de diversas profissões. Esse é um movimento que teve início na 1ª Revolução Industrial, mas continua até hoje. Entretanto, diferente daquela época, nas últimas duas décadas o uso de computadores e da internet tem permitido que a maioria das carreiras simplesmente se adaptem e cresçam, e não mais deixem de existir.
É o caso da profissão do contador. Sem dúvida, ela mudou muito nos últimos anos. Há inclusive quem diga que ela irá morrer. Uma pesquisa da Ernest Young apontou isso recentemente. De acordo com ela, até 2025 esse profissional já não existirá mais.
Em parte, eles não estão enganados. O contador clássico realmente já está morrendo, mas a essa classe foi dada a oportunidade de mudar - e ao longo dos anos muitos vêm fazendo isso. Antigamente, o contador era apenas um “guarda livros”, uma pessoa dedicada a calcular manualmente diversos processos, e estar sempre ciente da condição financeira da empresa, mas sem voz administrativa. Essa profissão sem dúvida sumirá.
Ser guarda livros é algo que fazia sentido no século XIX, assim como na época era importante falar e escrever bem para ser contador. As mudanças vieram com o tempo. A introdução do computador mudou muito as coisas a partir dos anos 1990, principalmente com o uso de sistemas e de planilhas eletrônicas.
Hoje, o Excel foi deixado de lado e o uso de softwares ERPs é algo quase que obrigatório para a sobrevivência de uma empresa. Entretanto, apesar do aspecto tecnológico, o que mais mudou foi justamente e o mindset do contador.
Dos anos 1990 para os 2000, o foco da contabilidade, que era cumprir obrigações tributárias para com órgãos públicos, mudou completamente. O olhar passou a ser direcionado para o cliente.
De acordo com o CFC - Conselho Federal de Contabilidade, em 1996, apenas 1,98% dos contadores estavam interessados em contribuir para o crescimento dos seus clientes. Hoje, esse número tende aos 100%.
Isso porque houve um questionamento no mercado, e até na academia, sobre a carreira na área. O mercado passou a buscar um perfil proativo, multidisciplinar e com foco em consultoria e resolução de conflitos.
Com isso, até o salário dos contadores tem aumentado. De acordo com a previsão do Guia Salarial da Robert Half, os maiores aumentos salariais em 2016 foram dos analistas da área, cerca de 11%. As oportunidades de crescimento são inúmeras, e o contador facilmente consegue se tornar um gestor apto à tomada de decisão.
Ele passou a usufruir de forma estratégica de toda a informação que já gerenciava, pois o trabalho diário desses dados e processos ficou toda delegada à tecnologia. Atualmente, o contador usa seu bem mais valioso: seu conhecimento do panorama contábil.
Vemos cada vez mais o contador assumir uma posição entre as profissões ditas “humanas”, que não podem ser substituídas pela tecnologia. A automação de processos exaltou o potencial de gestão da profissão. O uso arcaico da contabilidade deu espaço à administração da empresa, e essa cada vez mais dá espaço ao empreendedorismo.
A contabilidade é a linguagem dos negócios, e era apenas uma questão de tempo até que se abraçassem de vez as rédeas da gestão. O sucesso está ligado a apenas uma boa tomada de decisão, e a análise de dados que permite isso é justamente o que os contadores vêm fazendo há anos.
O diálogo direto com o cliente tem transformado o contador em empreendedor potencial, e mesmo que ainda seja necessário manter um profissional com essas habilidades interdisciplinares à disposição, não será mais apenas nas empresas que contadores terão oportunidade de crescimento.
Essa profissão não irá morrer. Ela é humana demais para ser devorada. A tecnologia irá transformá-la, acabando com todos os trabalhos manuais e repetitivos, mas a ação proativa de seus profissionais irá expandi-la. Novas oportunidades de negócios estão se abrindo à frente. Basta estar preparado para elas.
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