Da Redação
Os consumidores brasileiros estão dispostos a pagar mais pelos alimentos orgânicos, em uma atitude de valorização da saúde e do meio ambiente. A conclusão é de uma pesquisa desenvolvida no Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pelo professor Danilo Aguiar, do Departamento de Economia (DEco), e apresentada em Dublin, na Irlanda, no mês passado, durante o 91º Congresso da Agricultural Economics Society, a mais antiga associação de Economia Agrícola do mundo.
Segundo o estudo, 92% dos consumidores estão dispostos a comprar alimentos orgânicos; dos 8% que ainda não estão dispostos, 83% comprariam se esses produtos fossem mais baratos. Dos entrevistados, 62% aceitam pagar até 25% a mais e 18,6% aceitam pagar entre 25% e 50% a mais pelos orgânicos.
A pesquisa foi realizada em Sorocaba, município com cerca de 650 mil habitantes, onde 480 questionários foram aplicados em supermercados de vários bairros da cidade. Após descarte de questionários problemáticos, 430 foram utilizados na análise. "Por meio desse instrumento, perguntamos uma série de questões que estão ligadas à decisão do consumidor ao comprar produtos orgânicos", explica Aguiar.
Estudiosos definem alimento orgânico como aquele produzido sem insumos químicos; pela legislação brasileira, considera-se produto orgânico aquele oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. Por essas características, esses alimentos atraem consumidores preocupados com a qualidade de vida, a saúde e com o meio ambiente. O setor de alimentos orgânicos tem crescido no mundo todo, movimentando mais de US$ 80 bilhões em 2014. "O crescimento do setor é em decorrência das preferências dos consumidores. Por isso, é importante saber como os consumidores tomam suas decisões de compra", afirma Aguiar.
Segundo o estudo, a "atitude" - como uma pessoa age ou reage em relação aos alimentos orgânicos, comparando-o com outras alternativas, com base em sua forma de pensar, suas crenças e emoções - é a variável crucial para explicar a disposição do consumidor a pagar pelo produto orgânico. "O setor de produtos orgânicos é totalmente mobilizado pela atitude do consumidor", analisa Aguiar, complementando que "hoje, os consumidores já estão dispostos a pagar mais pela qualidade", e afirmando que isso aquece o setor.
O professor explica que a atitude do consumidor é determinada principalmente por "normas subjetivas", que consistem nas influências que o indivíduo recebe de outras pessoas e do ambiente em que se encontra. "As normas subjetivas são a influência que a pessoa sofre dos grupos que a cercam e, também, do ambiente em que vive. Em relação aos produtos orgânicos, por exemplo, quem tem familiares ou vê um ídolo - como um ator ou um esportista - consumindo ou incentivando o consumo desses produtos pode ser induzido a consumi-los também", ilustra Aguiar. "Até o próprio ambiente pode influenciar. Quando há no supermercado várias prateleiras com produtos orgânicos, o consumidor começa a se familiarizar e a aderir a essa decisão", garante o pesquisador.
Outras influências
Outra variável importante identificada e que influencia a atitude do consumidor são "as preocupações com saúde e com o meio ambiente", relacionadas, segundo Aguiar, tanto aos impactos dos insumos químicos no ambiente quanto na saúde das pessoas.
A "confiança nos atributos do produto orgânico" foi outra variável analisada na pesquisa. "O consumidor, em geral, acredita nos atributos do produto orgânico quando ele tem uma certificação. A maioria não acredita se o produtor apenas 'falar' que é orgânico", relata o professor. "Visualmente não conseguimos identificar se um produto é orgânico. Por isso é importante que haja a certificação para dar maior confiança ao consumidor", completa.
Segundo o docente, as informações apresentadas no estudo são importantes para quem deseja investir no setor e também para os agentes públicos, já que a agricultura orgânica é uma ótima forma de não só proteger a saúde e o meio ambiente como, também, de aumentar a renda de pequenos produtores. "O aspecto social da produção dos produtos orgânicos é fundamental por ser uma forma de o pequeno agricultor se manter ativo, pois uma agricultura orgânica em alta escala é praticamente inviável. Com o produto orgânico, o pequeno produtor consegue se diferenciar e recebe um valor um pouco maior - como a pesquisa sugere. O próprio mercado acaba retribuindo o trabalho da pequena produção", conclui o professor da UFSCar.
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