segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Dividir ao invés de acumular

Por Vitor Lima

É perceptível que a palavra “colaborativo” está cada vez mais presente em nosso cotidiano. São muitas as iniciativas, em diversos segmentos, dependentes da colaboração de vários agentes para atingirem o resultado necessário. O poder público, por exemplo, solicita a colaboração da população em algumas ferramentas para melhorar a qualidade de vida nas cidades. 

Em São Bernardo do Campo os munícipes contam com o aplicativo (app) VcSBC, ferramenta que permite que a população cadastre  as demandas de zeladoria urbana que a cidade necessita. Outro exemplo é o app Sem Dengue, ferramenta que consiste no mapeamento coletivo de possíveis focos do Aedes aegypti para auxiliar as autoridades no combate ao mosquito. 

Arte: Reprodução
A “onda” de colaboração também afeta o mundo dos negócios com força, por meio da economia colaborativa. Impulsionado pelas ferramentas digitais, a economia colaborativa ganhou fôlego no fim da década passada e acompanha mudanças nos valores pessoais dos cidadãos – sustentabilidade e compartilhamento passam a ser palavras relevantes nas escolhas dessas pessoas. 

Emprestar, doar e alugar

O conceito de “economia colaborativa” engloba várias práticas e, talvez, a mais forte delas vá na direção oposta ao acúmulo de bens e do consumismo exacerbado, facetas características do capitalismo. A relação das pessoas com os bens têm passado por grandes transformações e cria-se um movimento de reflexão sobre a real necessidade de possuir determinados produtos. 

A exemplificação mais comum é aquela que questiona a necessidade de possuir uma furadeira. Afinal de contas, o que as pessoas precisam é do serviço que a furadeira nos oferece, ou seja, o furo na parede. Então, possuir tal ferramenta seria uma coisa desnecessária para uma família que precisa de novos furos nas paredes com pouquíssima frequência. 

Nasce aí o sentido do consumo compartilhado. Quando essa família precisar de um furo na parede, basta ela pedir uma furadeira emprestada para alguma outra família que tenha a ferramenta e depois devolvê-la, sem a necessidade de comprar uma furadeira. Uma prática sustentável e barata, que apresenta benefícios ao meio ambiente e ao bolso daqueles que a realizam. 

O consumo colaborativo é algo antigo e característica, principalmente, das regiões periféricas – mas, nesse caso, o ato era impulsionado muito mais pela necessidade do que pelas ações sustentáveis. No entanto, a popularização deste compartilhamento não seria possível sem o avanço da internet e das ferramentas digitais. O grande mérito da internet e das plataformas propiciadas por ela foi aproximar as pessoas, unindo aqueles que têm algo para emprestar, alugar ou doar e aqueles que necessitam do bem.

São vários os portais e aplicativos para viabilizar o consumo compartilhado. Para o compartilhamento de brinquedos, existe o Clube de Brinquedos (www.clubedobrinquedo.com.br); para compartilhar carros, o Fleety (www.fleety.com.br); para bens aleatórios, o Tem Açúcar? (www.temacucar.com). Todas essas ferramentas trabalham o verbo dividir ao invés do acumular. 

Projeto piloto em São Caetano

De olho nesse processo, as grandes corporações desenvolvem estudos e começam a tentar aderir a esse movimento. Em junho, a General Motors (GM) do Brasil anunciou um projeto piloto de compartilhamento de veículos no Complexo Industrial de São Caetano do Sul. 

Trata-se do Maven, que nesse primeiro momento é acessível apenas aos empregados da montadora, que podem alugar os carros que estão à disposição nos pontos localizados dentro das dependências da fábrica. Depois do uso, o veículo deve ser deixado em algum dos pontos determinados. O pagamento das horas de utilização do automóvel é descontado diretamente da folha de pagamento do empregado. 

Na ocasião, o diretor de marketing da GM do Brasil, Samuel Russel, afirmou que o programa é apenas uma parte da estratégia de mobilidade urbana da GM. “Vemos as preferências dos consumidores em evolução, tais como o compartilhamento de automóvel, como oportunidades reais de negócios que poderemos incluir rapidamente em nossas capacidades existentes”, comentou.

Financiamento coletivo: o que é?

Na economia colaborativa, outra prática que acumula cada vez mais adeptos é o crowdfunding (financiamento colaborativo). Até a presidente afastada, Dilma Rousseff, aderiu as “vaquinhas” online e lançou em 29 de junho, por meio da plataforma Catarse (www.catarse.me), uma campanha para arrecadar fundos. De acordo com a descrição da ação, o valor arrecadado será usado para “o pagamento de despesas com deslocamento da presidenta”. Até o dia 13 de julho, Dilma arrecadou R$ 744.655 doados por mais de 11 mil pessoas.

Paula aderiu ao financiamento coletivo no fim do ano passado | Foto: Hugo Silva
Com valores bem mais modestos, a universitária Paula López também encabeçou uma campanha de financiamento coletivo. Em novembro passado, a estudante lançou uma vaquinha na internet para viabilizar a compra de uma câmera fotográfica e outros equipamentos, que eram necessários para os trabalhos acadêmicos e projetos pessoais. “Eu conheci a plataforma, entendi o que ela era, o poder que ela tinha de girar a economia e resolvi fazer”, explica. 

Durante a campanha, uma desconhecida conheceu a história de Paula e doou uma câmera. A quantia doada pelas outras pessoas totalizou R$ 1 mil e foram usados para a compra de outros equipamentos. “O legal era que durante a vaquinha você tinha que preparar e divulgar (a campanha), porque para as pessoas doarem era preciso mostrar algum sentido, para que elas acreditassem em mim ou no meu projeto”, detalha. 

Entusiasta da economia colaborativa, Paula segue doando para outros projetos nos quais acredita e afirma que a prática é uma “facilitadora de sonhos” e que também serve para aproximar as pessoas. “Sempre quando eu vou fotografar tem uma parte das pessoas que me ajudaram naquilo”, conta.



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